quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Necrose - 19 de Novembro de 2008

Tens a pele necrosada
Pelo tempo, pela idade.
Já nada sentes,
Nada vês ou dizes.
Feliz de ti que já viveste
Já jogaste os jogos da vida,
Agora descansas, quase
Em paz, nesse sofá.
Estás à espera que venha.
Continuas aí caída
Definhando. Ruída,
Completamente ardida,
Consumida pela velhice.

Agora nessa sala
Jaz por inteiro
Esse corpo velho,
Findo, adulterado
Pelo tempo. Pronto
A sepultar.

Já se ouvem os sinos
Daquela igreja que
Em tempos frequentaste.
Será paragem antes
Da tua última morada.
Estarás lá na caixa em
Pinho mel deitada no acolchoado
Branco, com as rendas religiosamente
Tecidas e com motivos católicos.

“Foste tudo o que quiseste,
Sem recusar nada”,
Estará escrito na entrada
Do teu jazigo de família,
Nessa aldeia onde nasceste,
Pois lá foi onde te conheceram
Ainda jovem, bonita, com a lucidez
De uma moça de escola.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estupendo! Moço, ainda farei deste conto, um verdadeiro hino! :)